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domingo, 28 de setembro de 2008

Guerreiros de Iemanjá

(Escutando: Coldplay - Speed of Sound)

Não existe vida sem água. Acho que também não existe água sem vida. Toda a nossa constituição biológica é baseada em água, então acho que a afirmação é correta. Muito pelo contrário do que se pensa normalmente, existe muito mais vida no fundo dos oceanos do que nas mais variadas florestas do mundo. Se considerarmos que todos os anos barcos pesqueiros jogam de volta ao mar mais de 20.000.000 de toneladas de peixes que não servem para nada, já podemos imaginar que é provável a existência de pelo menos dez vez mais peixes no mar do que há pessoas no mundo. Como os insetos.
Tirando os cálculos estapafúrdios e as pesquisas de conhecimento inútil, queria apenas dar uma margem idealística da quantidade de criaturas marítimas que pescadores por todo o mundo podem ter acesso em um dia comum de trabalho (isso é claro excluindo espécies que vivem no fim do mundo, aquático).
É disso que vivem os pescadores. Sejam eles brasileiros, japoneses, ingleses, ugandenses ou costa-marfinenses. Pescadores vivem de peixes. Ou melhor, a venda deles. Acordando de manhã, antes de qualquer trabalhador normal, muitas vezes antes mesmo do sol aparecer no céu, eles iniciam sua jornada de trabalho orando. Eles rezam durante alguns minutos pedindo a seus orixás e santos que tenham a sorte de fisgar o máximo de peixes possível e uma rota livre de problemas. É nessas horas que me pego imaginando, “O que eles diriam de um grupo de índios fazendo a dança da chuva?”.
A vida, os hábitos (de vez em quando um tanto bárbaros) rapidamente são assimilados por quem está acostumado a uma certa falta de luxos pessoais (eu), mas para a maior parte das pessoas, pescadores são vistos como porcos, mal-educados e arruaceiros. Dito isso, como me aproximar ao ponto da fotografia e deixar que eles se sintam a vontade comigo tanto quanto eu me sinto a vontade com eles? Muito simples: oferecendo alguns copos de cerveja. Na maior parte do território brasileiro a cerveja abre caminhos, estradas, portões, portas, pernas... enfim: não foi difícil fazer amizade.
“Eu poderia ir com vocês, para documentar o seu trabalho?”, disse ingênuo.
“Você pediria para acompanhar um gari no seu dia-a-dia? Ou um advogado?”, respondeu o guerreiro grosseiramente. “Não se pode acompanhar pessoas no seu trabalho. Você acha demais nós ficarmos em contato com o mar todos os dias. Nós temos isso tanto como uma benção quanto como uma maldição. Se o mar der peixe, estamos abençoados. Se nós dermos azar, a segunda opção. Nós estamos trabalhando. Você se divertindo.”
Disse ele sem imaginar o quanto estava me expondo a tanto ser assaltado quanto a molhar meu equipamento, mas ainda sim disposto ao sacrifício pelas excelentes fotografias que poderia conseguir. Mas isso é óbvio que eu não disse.
Então, fica prometido desde agora: eu ainda documentarei o dia-a-dia de trabalho de um grupo de pescadores em alto mar. Ainda entrarei em um barco de pesca ou mesmo um barquinho de dois homens para passar todas as horas do dia que eu puder fotografando seu trabalho.
Para fazer uma rápida despedida, lembro de ter perguntado para alguns dos pescadores o que eles pensavam sobre pessoas que jogam lixo no chão, que sujam as florestas e maltratam a natureza, tendo visto uma senhora granfina jogando uma latinha de refrigerante no chão. Foi onde um desses guerreiros se despediu de mim com algo desconcertante, “Nós vivemos da natureza. Não faz sentido não cuidarmos dela.”

2 comentários:

Anônimo disse...

oxe
legal isso ai hein

Anônimo disse...

oxe
vi tua foto no site da ng manu