(Escutando: Chingon - Cherry´s Dance of Death)
Uma das coisas que mais me chama a atenção quando estou próximo a pessoas que tem interesse por fotografia, que já trabalham com isso ou mesmo aqueles que tem outras carreiras e finalidades perante a vida, é a quantidade de desculpas que um ser-humano comum é capaz de encontrar para as mais variadas situações.
Algo que me deixa intrigado é descobrir a preferência das pessoas em NÃO fazer alguma coisa que gostam, somente pelo simples fato da necessidade de comprometimento com isso. É muito mais fácil não se importar.
As desculpas mais antigas, que já estão quase virando termo para isso são "Preciso de um equipamento melhor!", "Eu não consigo fazer isso!" e “Fotografar natureza não paga bem”. A quantidade de vezes que escuto isso diariamente por pessoas que se dizem apaixonadas pela arte de desenhar com luz é desanimadora. Cheguei a escutar na certa vez na faculdade a seguinte frase “Vou virar fotógrafo assim que conseguir comprar uma câmera melhor.”
A fotografia ambiental não é o fato de você ter uma câmera que faz 20fps e conta com ISO 9000, uma lente 1200mm de abertura 2.8 e um flash SB1000 e sair pra fotografar passarinhos e macaquinhos. Fotografia ambiental é você ter qualquer equipamento, mas contar com uma bagagem de conhecimento muito mais pesada que tudo dentro da sua mochila. É você entrar no meio do mato sabendo exatamente o que vai fotografar, quais momentos dariam uma boa foto, saber o que já foi exaustivamente explorado, ignorar as fotos que qualquer pessoa pode fazer e procurar exatamente as que são mais difíceis de conseguir. Fotografia ambiental é você ter noção de que a foto é difícil, mas mesmo assim entrar na selva e só sair quando tiver a foto que quer. É buscar mostrar para as pessoas o que elas nunca viram antes ou o que já viram de formas diferentes.
A fotografia consiste em estudo. Em conhecimento. Os fotógrafos da revista que hoje é tida como modelo para a fotografia de natureza, National Geographic, tem tempo suficiente para estudar e saber praticamente tudo que há para se saber sobre o assunto que vão fotografar. Eles não são só pessoas que entram nas florestas com uma câmera, fotografam qualquer coisa e voltam para casa. Os caras entendem e sabem o que estão fazendo. Melhor que isso, eles são os melhores no que fazem.
No documentário "National Geographic - Os Fotógrafos" podemos entender perfeitamente o que os fotógrafos da revista estão dispostos a fazer pela fotografia.
Michael "Nick" Nichols, fotojornalista da vida-selvagem e colaborador da revista, passou 15 meses na floresta de Ndoki, no Congo, junto do ativista Michael Fay caminhando 2000 milhas no meio do nada, vivendo em acampamentos, contraindo malária, rezando, se perdendo e fotografando. A exploração foi batizada de "Megatransect". Essa é uma forma de se comprometer, verdadeiramente, com a fotografia. É a forma destes homens mostrarem o que estão dispostos a fazer para mostrar ao mundo o que há ali e que aquilo precisa permanecer ali. Esse documentário teve tanta repercussão que fez com que o presidente do Gabão criasse 13 parques nacionais, protegendo a floresta de Ndoki contra o desenvolvimento do homem.
O que me dá pena é saber que fotógrafos como Sebastião Salgado, um dos maiores fotógrafos brasileiros hoje em dia, gastam a maior parte de seu dinheiro e tempo se dedicando a reflorestar hectar após hectar, visando um Brasil melhor em poucos anos, mas no Rio de Janeiro e em outros estados uma cultura popular idiota ainda faz com que as pessoas joguem lixo no chão e continuem perpetuando isso dia-a-dia.
O comprometimento vem da nossa parte. Nós podemos nos definir "Fotógrafos Ambientais" a partir das coisas que fazemos. Podemos nos definir ambientalistas de coração a partir das atitudes que tomamos. Não da quantidade de fotos de animais que temos ou da paixão que nutrimos pela natureza, mas do que aprendemos enquanto estavamos fotografando no mato e do que nos propomos a fazer para a proteção do meio-ambiente. Se você descobriu que a alimentação dos Sagüis é de pequenos insetos, frutas, ovos e tudo mais, e não banana como todos pensam, isso já é um conhecimento. É algo que vai impedi-lo de ver uma foto de um Sagüi comendo banana e pensar "Nossa, os macacos realmente comem bananas" e talvez faça com que não dê comida para animais quando ler nas placas “Por favor, não alimente os animais”.
O meu comprometimento com a fotografia é sem tirar nem pôr: entrar no meio do mato, fazer as melhores fotos que conseguir dos momentos mais distintos e raros que eu possa presenciar e trazê-las de volta para que as pessoas vejam e de alguma forma se conscientizem de que a natureza precisa de ajuda e só nós poderemos ajudá-la.
Eu não quero que as pessoas olhem para as minhas fotos e digam "Esta é uma foto de Giordanno Bruno". O que eu quero é que as pessoas tenham como entender um pouco mais da natureza, o por que de sua fragilidade, o por que de todos precisarem de consciência para perceber que só nós, seres-humanos, podemos preservá-la. Dito isso, "Nossa, aqueles Urubus estavam brigando com uma Gaivota", me parece uma excelente exclamativa para uma de minhas fotos.
Estar comprometido com a fotografia é ter idéia do equipamento que se tem e o que ele é capaz de fazer. É claro que para se fotografar um Leão será necessária uma objetiva de longo alcance, caso contrário você passa de fotógrafo para refeição, mas isso não quer dizer que boas fotos não possam ser feitas com câmeras e objetivas mais modestas, que um bom ato de proteção ao meio-ambiente não possa ser feito com o que se tem em mãos.
O olhar fotográfico ainda é o maior aliado do fotógrafo. É o fator decisivo nº 1. É esse olhar que permite a ele presenciar uma boa cena e saber a melhor forma de capturá-la. No caso da fotografia ambiental, você ainda precisa ter noção de que algo pode estar atrás de você, de que a pedra que você está pisando pode não ser tão resistente assim, que o animal a sua frente pode não ser tão amigável e que aquela aranha pequenina pode ser um dos animais mais venenosos daquele bosque. Mas no final do dia, após todas as escoriações, cansaço, calor, exaustão total você olha para suas fotos e percebe que há mais fotos para mostrar aos outros do que para apagar.
Acho que um fotógrafo “bem equipado” não é aquele que possui uma Canon Mark III ou uma Nikon D2x, mas sim o que possui uma vasta gama de conhecimento, nos mais variados assuntos, pois nunca se sabe quando uma caixa de fósforos ou um rolo de papel higienico vai ajudar mais que uma objetiva 70-200 2.8 IS.
A natureza precisa de ajuda. Eu faço a minha parte. Talvez, um dia, minhas fotos sejam responsáveis pela salvação de alguma árvore ou mesmo pela criação de uma área de proteção ambiental.
Nunca se sabe.
Uma coisa é certa: minha câmera estará sempre disponível e minhas lentes estarão sempre voltadas para o verde.
2 comentários:
Pois é Giordanno, pena que poucos pensem assim, mas é como se costuma dizer "poucos mas bons".
É triste que ainda haja quem pense que a máquina é que faz o fotógrafo, pois eu não penso assim. Para ser-se fotógrafo tem-se que amar esta arte e apesar de tudo o que fazemos... a máquina é apenas um meio para atingirmos o que queremos.
Como fotógrafo amador é assim que penso e hoje não consigo imaginar-me sem uma máquina fotográfica.
En relação ao blog
Fotografia da Natureza - Amigos dos Açores não vejo razão para não adicionar ao seu.
O nosso blog é um espaço do Grupo de Fotografia de Natureza dos Amigos dos Açores – Associação Ecológica e tem por objectivo a divulgação e a defesa do património natural dos Açores através da fotografia.
Parabéns pelo blog
que desabafo foi esse hein xará
encontrei teu blog procurando pelo nome do padre no google..... tb me amarro em natureza e ecologia
mt maneiro
ja te add nos favorits
parabens
Postar um comentário